Sinopse
Durante o videoclipe, a cantora encontra-se sozinha, sem a presença de mais ninguém em cena. O cenário está preenchido por um número incontável de copos com água, sugerindo uma emoção reprimida, simbolizada pela água que permanece separada entre os copos. A figura mítica que surge, um guerreiro ou dançarino, vestido de negro, pode ser interpretada como uma espécie de alter-ego da cantora. A imagem dos pratos desfeitos expressa sentimentos de raiva e agressividade, dentro do contexto de uma letra que descreve um relacionamento amoroso que fracassou.
Temáticas
1- A oposição entre o amor incondicional e o desejo de retaliação com o término de uma relação:
– Sentimentos e emoções que vão desde o explícito ao subliminar, envolvendo amor, desilusão, frustração e ira;
– A atitude imóvel da cantora, contrastando com os seus sentimentos de amor desapontado, cólera, revolta e desejo de vingança;
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- A forma como a imagem da cantora é representada, desafiando o estereótipo contemporâneo de beleza feminina;
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- O poder que se exerce sobre o público, veiculada pela conexão entre a mensagem da letra, a música e a imagem.
Material de Apoio
Adele, Videoclipe de “Rolling in the Deep” (2010/2011)
Para uma melhor compreensão da nossa análise semiótica, esta será apresentada em várias partes, focando-nos, não apenas no historial da cantora, mas principalmente nas componentes do videoclipe “Rolling in the Deep”: letra/mensagem, música e imagem. A cantora Adele, nascida em Londres, dispensa longas apresentações. No entanto, destacaremos os seus grandes feitos na história da música mundial. Atualmente com 36 anos, Adele é uma das maiores recordistas da história da música pop mundial, tendo igualado o feito dos Beatles de 1964, quando tiveram com dois álbuns, simultaneamente no Top 5 do Reino Unido. Adele é vencedora de dezasseis Grammy Awards, doze Brit Awards, um Globo de Ouro e um Óscar pela sua música “Skyfall”, interpretada num dos filmes de James Bond.
A canção em foco, “Rolling in the Deep”, foi um dos maiores sucessos do século XXI, quebrando recordes tanto nos Estados Unidos como no Reino Unido. Em 2015, Adele lançou, a 23 de outubro, o single “Hello”, novamente quebrando recordes, com mais de 23 milhões de visualizações do videoclipe nas primeiras 24 horas. Por estas razões, e não só, Adele destaca-se de muitas outras cantoras internacionais por não corresponder ao estereótipo de beleza feminina contemporâneo, que favorece uma mulher de estatura pequena e, sobretudo, magra, imposto pela moda, aos ídolos pop. Desde o seu lançamento como cantora internacional, Adele adota um estilo muito próprio na sua forma de vestir e de estar, destacando-se de forma positiva. Possui um rosto marcante, de grande beleza e fotogenia, além de uma postura muito elegante nas suas aparições públicas e em contextos profissionais. Convém salientar, que Adele, ao longo deste estudo longitudinal, teve várias mudanças corporais, mas o que interessa para o nosso estudo, são os conteúdos, no caso imagéticos, do videoclipe.
Julgamos de estrema importância, para o nosso estudo, compreender a interligação entre a letra/mensagem, música e imagem para perceber o poder emergente da fusão destes três elementos, no ato quer da codificação, quer da descodificação.
Este videoclipe de Adele, em sua essência, assemelha-se a um curto filme de grande simplicidade, refletindo a postura da cantora. Contudo, é uma encenação meticulosamente arquitetada por uma superequipa que utiliza “ferramentas” de considerável poder persuasivo perante o espectador.
Logo no início do videoclipe, se prestarmos atenção, é utilizado um som semelhante ao dos ponteiros de um relógio, capturando imediatamente a atenção do espectador. Este som crescente (em fade in), produzido por uma guitarra a tocar ritmicamente uma melodia familiar, é acompanhado pela apresentação de uma imagem estática. Desde o início até ao segundo 0’23”, todas as imagens, incluindo as de Adele, são introduzidas também através de fade in, um efeito que aproxima o espectador e o envolve na narrativa. Ao segundo 0’23” do videoclipe, uma bateria entra em cena, marcando a pulsação humana com o bombo, enquanto visualmente é apresentada uma quantidade infinita de copos com água. Acreditamos que, até ao segundo 0’23”, o espectador já está completamente imerso na ação do videoclipe e, de certa forma, já interage com a narrativa, pois o seu corpo físico é imediatamente evocado a reagir ao ritmo da pulsação e à emoção transmitida pela água, confinada a movimentar-se dentro dos copos.
Cut 1
Assim, até ao segundo 0’23’’, o espectador já está totalmente imerso na ação do videoclipe. Sente uma ligação física com a narrativa, através do ritmo cardíaco, e emocionalmente, pela água que se move dentro dos copos.
Cut 2
Observamos também que todo o videoclipe, em comparação com outros do mesmo ano, analisados através da lista dos MTV Music Awards de 2011, é significativamente estático. Isso é acentuado pelo facto de Adele, a cantora e figura principal da narrativa, estar sempre sentada numa cadeira de braços antiga, mas de grande elegância. As vestes da cantora, assim como o penteado, parecem ter sido escolhidos para remeter à década de 60 do século XX.
Em algumas cenas do videoclipe, temos a perceção de estar diante de um quadro renascentista, especialmente na imagem ao minuto 2’17”, onde vemos um perfil de Adele, uma das poucas cenas em que ela não canta. Este cenário renascentista é reforçado pela visualização dos frescos e altos-relevos da sala em que a cantora se encontra.
Cut 3
Se analisarmos a mensagem da letra, percebemos que Adele manifesta raiva devido ao término de uma relação amorosa. A cantora expressa uma profunda revolta, chegando a anunciar uma vingança e revelando a existência de cicatrizes emocionais, ao mesmo tempo que sugere estar finalmente a “sair da escuridão”. Considerando estes aspetos da mensagem transmitida pela letra, nota-se que a mensagem veiculada pela imagem principal do videoclipe é completamente distorcida. Esta distorção é evidenciada pelo facto de Adele permanecer, do início ao fim do videoclipe, confinada a uma cadeira, com as pernas na mesma posição. Apenas a partir do minuto 1’52’’, quando a canção chega ao refrão, há uma ligeira mudança, em que a cantora se movimenta, mas apenas com a parte superior do corpo,132 mantendo-se confinada à cadeira. Acreditamos que isto ocorre devido ao facto, de no ano em que o videoclipe foi gravado, Adele não possuir o perfil físico de beleza imposto pela sociedade e pela própria indústria cultural e discográfica.
Cut 4
Embora a execução do videoclipe seja tecnicamente excelente e contenha elementos que possam sugerir uma atitude de raiva, como a louça a ser partida, fica evidente um preconceito relacionado com os ícones socialmente impostos. A estereotipia de género é representada por uma mulher magoada, mas destinada a sofrer em silêncio, devendo manter uma postura digna e conter a sua dor.
Por outro lado, consideramos que este videoclipe pode ser igualmente interpretado como discriminatório, uma vez que, em momento algum, se vê uma imagem clara de corpo inteiro da cantora, com as suas curvas e postura naturais. Para nós, este é mais um exemplo de um videoclipe que “esclarece” a realidade através dos seus três componentes — letra/mensagem, música e imagem — e que transmite, subliminarmente, aos jovens, a idealização de um ser inexistente. Ou seja, uma Adele que está profundamente enraivecida, conforme a mensagem da letra, mas que se mantém “digna” e “em pose”, completamente reprimida do início ao fim do videoclipe. Isto denuncia a ineficácia da palavra perante a imagem, o que é particularmente relevante neste caso, pois, pela letra da canção, podemos vislumbrar um grito libertador da mulher.
Rolling In The Deep
There's a fire starting in my heart Reaching a fever pitch and it's bringing me out the dark Finally I can see you crystal clear Go 'head and sell me out and I'll lay your ship bare See how I leave with every piece of you Don't underestimate the things that I will do There's a fire starting in my heart Reaching a fever pitch and its bringing me out the dark The scars of your love remind me of us They keep me thinking that we almost had it all The scars of your love they leave me breathless, I can't help feeling We could have had it all Rolling in the deep You had my heart inside of your hand And you played it to the beat Baby I have no story to be told But I've heard one on you and I'm gonna make your head burn Think of me in the depths of your despair Making a home down there 'cause mine sure won't be shared The scars of your love remind me of us They keep me thinking that we almost had it all The scars of your love they leave me breathless, I can't help feeling We could have had it all Rolling in the deep You had my heart inside of your hand And you played it to the beat We could've had it all Rolling in the deep You had my heart inside your hand But you played it with a beating Throw your soul through every open door Count your blessings to find what you look for Turned my sorrow into treasured gold You pay me back in kind and reap just what you sow We could've had it all We could've had it all It all, it all, it all, We could have had it all Rolling in the deep You had my heart inside of your hand And you played it to the beat We could've had it all Rolling in the deep You had my heart inside your hand But you played it, you played it, you played it, you played it To the beat Compositores: Adele Laurie Blue Adkins / Paul Richard Epworth
Há um fogo a começar no meu coração Atingindo um estado de febre, está-me a trazer da escuridão Finalmente consigo ver-te de forma cristalina Vá, atraiçoa-me e eu hei-de expor os teus podres Vê como me vou embora com todos os teus pedaços Não subestimes aquilo que eu vou fazer Há um fogo a começar no meu coração Atingindo um estado de febre e está-me a trazer da escuridão As cicatrizes do teu amor recordam-me de nós Fazem-me pensar que nós tínhamos quase tudo As cicatrizes do teu amor, elas deixam-me sem fôlego, não consigo parar de sentir Nós podíamos ter tido tudo Perdidamente Tiveste o meu coração na tua mão E manipulaste-o ao teu ritmo Querido, não tenho nenhuma história para ser contada Mas ouvi uma das tuas, e eu vou por-te a cabeça a arder Pensa em mim nas profundezas do teu desespero Criando um lar lá em baixo, já que o meu com certeza não será partilhado As cicatrizes do teu amor recordam-me de nós Fazem-me pensar que nós tínhamos quase tudo As cicatrizes do teu amor, elas deixam-me sem fôlego, não consigo parar de sentir que Nós podíamos ter tido tudo Perdidamente Tiveste o meu coração na tua mão E manipulaste-o ao teu ritmo Podíamos ter tido tudo Perdidamente Tiveste o meu coração na tua mão Mas brincaste com ele, ao ritmo da batida Lança a tua alma através de todas as portas abertas Conta as tuas bênçãos para encontrares o que procuras Transformaste a minha tristeza em ouro precioso Vais-me pagar na mesma moeda e colher o que semeaste Nós podíamos ter tido tudo Nós podíamos ter tido tudo Tudo, tudo, tudo Nós podíamos ter tido tudo Perdidamente Tiveste o meu coração na tua mão Mas manipulaste-o ao teu ritmo Podíamos ter tido tudo Perdidamente Tiveste o meu coração dentro da tua mão Mas jogaste-o, jogaste-o, jogaste-o, jogaste-o ao ritmo da batida